Muito Barulho por Nada

Sou jornalista, tenho diploma e coloco minha opinião aqui desde 2004. Como nunca tive tempo de correr atrás de ferramentas que pudessem transformar esse hobby numa atividade remunerada, precisei continuar trabalhando como locutor e roteirista e fiquei assistindo um monte de gente me ultrapassar.

Mesmo assim, mantive o saudável hábito de escrever nesse meu diário que mantém algumas poucas dezenas de leitores fiéis (ou destrambelhados, como na época em que o Maurício de Sousa decidiu colocar o endereço do meu site em seu mangá da Mônica sem avisar).
De lá pra cá, tomei gosto pela coisa, mas as contas no final do mês sempre priorizavam outras atividades. Em primeiro de abril (não estranhe a data, pois ela será uma conveniente coincidência) me cadastrei no twitter e comecei a entender melhor como funcionam os mecanismos da nossa sociedade.
A internet não é muito diferente da TV quando foi implantada na década de 1950. Naquela época, a novidade não passava de uma espécie de “rádio com imagem” e os empresários de comunicação quebravam a cabeça para tentar transformá-la em algo rentável. Enquanto isso não acontecia, tudo era válido e, graças a esse “amadorismo comercial”, os contemporâneos da era de ouro da televisão tiveram o privilégio de ter de graça, sem sair de casa, o melhor que a dramaturgia brasileira poderia oferecer.
O tempo passou e o resto da história todos nós conhecemos. Graças à publicidade que somos obrigados a engolir, e que possibilitou dinheiro para a contratação de uma série de celebridades de quinta categoria a peso de ouro, uma enxurrada de programas de péssima qualidade invadiu a telinha.
A internet está fazendo o caminho inverso. Como não é preciso um grande investimento para se alcançar a audiência, qualquer um, com a câmera de um computador (ou celular) na mão e um monte de ideias esdrúxulas na cabeça pode, em pouco tempo, se tornar uma celebridade. E sem o filtro de um Chateubriand ou Roberto Marinho, o que é muito bom. Mas com uma liberdade que, ao mesmo tempo em que proporciona um sensacional furo de jornalismo, gera uma falta de bom senso que pode chegar a brincadeiras colegiais do tipo Chupa .
O caminho a seguir? Não sei… Se eu morasse no Canadá diria que o discernimento da audiência poderia resolver o problema com uma faxina natural. Mas com uma plateia que acorda com uma senhora oxigenada e um papagaio que ganham muito mais que um cientista que pesquisa a cura do Parkinson, o final do túnel está ainda bem longe.